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domingo, 31 de março de 2013

COTAS ÉTNICO-RACIAIS: MUDANDO VIDAS


Cotas, uma nova discussão

Marcela Donini
Justas ou não, a verdade é que as cotas étnico-raciais nas universidades brasileiras mudam vidas. Hoje, 125 instituições públicas de ensino superior no Brasil já adotam algum tipo de ação afirmativa para grupos específicos, seja reserva de vagas, como na Universidade de Brasília (UnB) e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sejam bônus na pontuação do vestibular, como faz a Unicamp.
Os dados foram divulgados em maio pelo Instituto de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa. Cento e sete instituições miram alunos da rede pública, enquanto 51 beneficiam negros. Neste ano, o Supremo Tribunal Federal confirmou a constitucionalidade do sistema de cotas étnico-raciais da UnB e da UFRGS. Com a consolidação desses programas, nasce uma nova questão: se entrar na universidade ficou mais fácil, o desafio agora é garantir a permanência desse novo perfil de aluno.
"São temas que merecem ganhar um teor de debate que transcenda a dicotomia atrasada do ser contra e a favor", afirma Gregório Durlo Grisa, doutorando em Educação e membro da Comissão Especial que redigiu a nova resolução sobre as cotas da UFRGS, com votação prevista para dia 3 de agosto.
Conheça, a seguir, as histórias de Silvana, cotista da UFRGS, e Susi, moradora do mesmo bairro onde Silvana se criou, mas que ingressou na mesma universidade pelo acesso universal. Veja ainda o exemplo da Unicamp, instituição que não adota o sistema de cotas e mantém programas com foco em alunos de escolas públicas, em que a palavra "vestibular" ainda é rara.
Cartola - Agência de Conteúdo / Especial para o Terra

Vizinhas divididas da UFRGS

Em 2009, a fachada da casa da família Rodrigues sustentava algo inédito no Beco do Coqueiro, bairro Lomba do Pinheiro, na periferia de Porto Alegre (RS). Uma faixa de calouro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) indicava que Silvana Rodrigues, então com 22 anos, havia passado no vestibular. Graças às cotas raciais.
Três verões depois, mais uma 'caloura' da UFRGS aparecia no local. Desta vez, do outro lado da rua mal asfaltada e sem saída. A nova vizinha, Susana Brughera, 27 anos, passou no vestibular de Educação Física na mesma universidade. Sem cotas, como fez questão de exibir na faixa.
As duas garotas têm histórias de vida parecidas. Ambas são filhas de pais com pouca instrução e trabalhadores de serviços gerais, com salários que não permitiram custear o ensino privado para as filhas. E as duas estudaram na rede pública. Silvana, durante todo o ensino básico, e Susi, até o segundo ano do Ensino Médio, quando interrompeu os estudos para cuidar do pai, que sofrera um infarto em outubro de 2002 e morreria sete meses depois.
Foto: Marcela Donini